para o Diário do Distrito
Crónica 1ª – TEMPO
Enquanto terapeuta familiar reconheço a importância da gestão do tempo na dinâmica relacional da família. Reconheço também a multiplicidade de tempos e de exigências que coexistem no sistema familiar.
Muitas famílias sentem que lhes falta tempo. Eu sinto que se quer fazer demasiado e se é muito pouco…
Corre-se atrás do tempo sem que se perceba que a vida acontece em cada detalhe, em cada interação e que o verbo amar se conjuga no tempo presente e não, em um qualquer passado idealizado ou em um tempo futuro, ainda por cumprir.
Doe o seu tempo ao autocuidado, ao amor próprio. Este será a base para amar o Outro, sem medo de se perder, sem medo de não ter tempo.
Os filhos precisam de pais com tempo. Tempo olhos nos olhos, sem teclados nem ecrãs como mediadores. Tempo de colo, de pele com pele, de mãos dadas e de gargalhadas.
Ter tempo para o humor é sinónimo de saúde familiar. Aprenda a rir de si próprio. Estará a ensinar as crianças sobre autoaceitação. Não procure ser um modelo de perfeição. Seja simplesmente feliz.
Ria, chore, zangue-se, mostre medo. Revele-se com tempo para ser humano. Não há sentimentos errados. Seja um exemplo de expressão emocional, tocando em todas as cores da vida.
Ensine os seus filhos a esperar. A cultivar o desejo, a sentir as borboletas na barriga e delicie-se com o seu ar deslumbrado quando, finalmente, o tempo chega.
Estabeleça prioridades para o seu tempo. Lembre-se que só é único e insubstituível na família. Um trabalho é apenas um trabalho. Uma casa é apenas uma casa. Deixe para amanhã tudo o que o impede de ser, o que é imprescindível hoje.
Aprenda a parar o tempo nos momentos felizes. Guarde-os dentro de si, qual reservatório de esperança para os momentos maus. Aceite o agridoce da vida e o tempo de cada coisa.
Crie o seu tempo individual e o tempo de ser família. Seja um exemplo de verdade. A verdade apaixona. A paixão vive no tempo presente, não precisa de mais nada.
Apaixone-se por si e pela vida. Será o dono do seu tempo.